O meio do peito ainda dói do cano prateado. Bem ali, onde fica o coração. O cara sabe das coisas.
Meio Barra Funda, meio Perdizes. Eu havia acabado de parar o carro, ele veio, revólver já na mão, andando com ginga, totalmente relaxado. Mas tão, tão relaxado que beirava o surreal. Achei que fosse uma brincadeira.
Não era. O cano prateado bateu forte no meio do peito, bem ali, onde fica o coração.
Entreguei a chave do carro, o celular.
"E a carteira?"
"Tá no carro."
"Vou te revistar. Se estiver com você, te mato."
E às 20h de uma sexta-feira, fui revistado por um bandido no meio da rua.
Só havia o molho de chaves.
"Deixa pelo menos isso comigo."
"Não. Vou levar."
Pegou as chaves. Bateu novamento o cano prateado no meu peito, bem ali, onde fica o coração. Foi embora.
Delegacia de Perdizes, sem sistema. Delegacia de Santa Cecília, dois flagrantes sei lá do quê.
"Se você ficar aqui, só vai ser atendido de madrugada."
B.O. registrado longe dali, na terceira tentativa.
E lembrei do Illy, que conheci no Kosovo duas semanas atrás. Ele me indicava um restaurante, a duas quadras do hotel, e ficou espantado quando perguntei se era perigoso andar pelas ruas de Pristina à noite.
"Claro que não."
É verdade, eu comprovei. Caminhando até o restaurante, naquele território que é alvo de conflito, cruzei com crianças jogando bola, casais namorando, amigos papeando despreocupadamente...
Aqui em São Paulo, não dá.
Você corre o risco de levar um cano prateado no meio do peito, bem ali, onde fica o coração.
Não, o blog não tem o objetivo de falar mal do Brasil. De jeito nenhum, mas me sinto no direito de expressar minha indignação. Além do que, o pouco que podemos fazer é votar, que seja feito com consciência.
Bjos e abraços
Rafa