segunda-feira, 26 de julho de 2010

A banalização da violência

Esse é um tema que me chama a atenção, na mesmo intensidade que me desagrada. Falo do assunto, com total conhecimento de causa, pois morava em São Paulo e já sofri diversos tipos de violência. Quando digo "diversos", entendam como vários, mesmo, sem exagero!

Semana passada um assunto que virou polêmica no Brasil, repercutiu no mundo e nas redes sociais foi o comentário do Sylvester Stallone sobre o nosso País. Ele disse: "Lá vc pode atirar nas pessoas, explodir coisas e eles te dizem 'obrigado e aqui está um macaco para vc levar para casa' não poderíamos ter feito o que fizemos em outro lugar. Explodimos muita terra. Parecia assim: 'todo mundo traz o cachorro quente. Vamos fazer um churrasco. Vamos explodir essa cidade." Comentou também sobre o BOPE, "os policiais de lá usam camisetas com uma caveira, duas armas e uma adaga no centro; já imaginou se os policiais de Los Angeles usassem isso? Já mostra o quão problemático é aquele lugar."

Os brasileiros se revoltam com comentários deste tipo, mas será que ninguém enxerga que existe um problema? Será que ninguém percebeu a banalização da violência no País? Será que o Stallone não tem razão? 

O que será que a Larissa Riquelme tem a falar sobre o Brasil depois de ter sido assaltada no Rio de Janeiro? 

Sábado, o Valter estava lendo o blog do jornalista Fábio Seixas, da Folha de São Paulo. Assim como muito brasileiros, me senti no lugar dele, lugar esse que já estive no passado e ainda hoje sinto que "o meio do meu peito ainda dói do cano prateado. Bem ali, onde fica o coração". Vale a pena a leitura. 

O meio do peito ainda dói do cano prateado. Bem ali, onde fica o coração. O cara sabe das coisas.
 
Meio Barra Funda, meio Perdizes. Eu havia acabado de parar o carro, ele veio, revólver já na mão, andando com ginga, totalmente relaxado. Mas tão, tão relaxado que beirava o surreal. Achei que fosse uma brincadeira.
 
Não era. O cano prateado bateu forte no meio do peito, bem ali, onde fica o coração.
 
Entreguei a chave do carro, o celular.
 
"E a carteira?"
 
"Tá no carro."
 
"Vou te revistar. Se estiver com você, te mato."
 
E às 20h de uma sexta-feira, fui revistado por um bandido no meio da rua.
 
Só havia o molho de chaves.
 
"Deixa pelo menos isso comigo."
 
"Não. Vou levar."
 
Pegou as chaves. Bateu novamento o cano prateado no meu peito, bem ali, onde fica o coração. Foi embora.
 
Delegacia de Perdizes, sem sistema. Delegacia de Santa Cecília, dois flagrantes sei lá do quê.
 
"Se você ficar aqui, só vai ser atendido de madrugada."
 
B.O. registrado longe dali, na terceira tentativa.
 
E lembrei do Illy, que conheci no Kosovo duas semanas atrás. Ele me indicava um restaurante, a duas quadras do hotel, e ficou espantado quando perguntei se era perigoso andar pelas ruas de Pristina à noite.
 
"Claro que não."
 
É verdade, eu comprovei. Caminhando até o restaurante, naquele território que é alvo de conflito, cruzei com crianças jogando bola, casais namorando, amigos papeando despreocupadamente...
 
Aqui em São Paulo, não dá.
 
Você corre o risco de levar um cano prateado no meio do peito, bem ali, onde fica o coração.

Não, o blog não tem o objetivo de falar mal do Brasil. De jeito nenhum, mas me sinto no direito de expressar minha indignação. Além do que, o pouco que podemos fazer é votar, que seja feito com consciência.

Bjos e abraços
Rafa

2 comentários:

  1. É lamentável mas é verdade!
    A Rafa sabe o que é isso, como agora o Fabio Seixas, infelizmente, também o sabe.
    Quando isso acontece com a gente, eles levam muito mais que o nosso carro, nossa carteira, nosso molho de chaves, nossas roupas, nossos eletrodomésticos, e tudo mais que possam carregar; eles levam nossa dignidade, nosso respeito, nossa autoconfiança, nosso amor próprio, nossa segurança e muitas outras coisas que não sao palpáveis.
    Mas como na vida tudo é uma troca, eles não nos deixam sem nada. Deixam outras coisas, não palpáveis também, assim como o medo, a insegurança, a desconfiança, a desesperança, a revolta, a indignação e vai por aó afora.
    Não tenho reclamações do atendimento, presteza e comportamento policial que recebi, mas ouvi do delegado um "ainda bem que levaram só isso". Entendo que era uma palavra de conforto mas o sentimento, até hoje, é como seu eu ainda devesse um agradecimento aos "amigos do alheio", como se eu devesse ficar feliz, afinal, "levaram só isso".
    Mais lamentável ainda é o comportamento de muitas pessoas que realmente fazem do comentário do Stallone uma verdade. Lembro que quando roubaram o Rolex do Luciano Hulck ouvi muitos comentários do tipo "ah... mas ele tem dinheiro; isso não vai fazer falta; ele deve ter outros". E daí? Vai fazer falta sim! Não importa o quanto ele ou qualquer outro tenha de dinheiro, trabalharam para possuir o que possuem e não é por que possuem que podem ser roubados e, acima de tudo, violados e violentados moralmente.
    Acho que, urgentemente, as pessoas precisam mudar e que provavelmente o VOTO seja a nossa maior moeda de troca.
    Essa mudança leva tempo mas....precisamos começar. Como diz uma camiseta de Dona Cleusa "o primeiro passo é o início de toda jornada".
    Que seja dado o quanto antes!

    bjs

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  2. Desde crianca - olha que faz tempo, ja tenho 35 - escuto falar que o Brasil eh o pais do futuro! E olha que outros ja deviam ouvir isso antes de mim, la pelos idos da colonizacao.
    Na posicao que o Brasil ainda se encontra, vai ser justamente o voto que vai colaborar com a manutencao do presente caos, afinal, nao da pra esperar muito de uma massa de eleitores que dao aprovacao a um governo as custas de bolsa-familia, ou o auxilio-esmola. Claro que nao eh objetivo nem do legislativo nem do executivo ajudar o povo como realmente deveria, educacao eh a resposta pra tudo a longo prazo, porem perderiam o poder de manipulacao das massas. O Brasil eh a setima ou oitava economia mundial(maior ate mesmo que o Canada), no entanto a populacao nao ve resultado disso na sua vida direta, exceto a esmola institucionalizada supra-citada.
    Parabens pelo post, tambem nao gosto de falar mal do Brasil (ou mesmo do Canada) so por falar, mas tem certas coisas que devem ser ditas, afinal como dizem por ai o pior cego eh aquele que nao quer ver.
    So posso desejar de coracao boa sorte pra quem fica no Brasil, por opcao ou nao.

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